terça-feira, 14 de abril de 2009

Pará, terra de ninguém

O Brasil ainda sofre com os abusos do coronelismo no norte e nordeste do país, que apavoram a população e findam a vida de quem luta por justiça. O caso mais comentado dos últimos anos e que chocou o país, devido à brutalidade e desumanidade, foi o assassinato da missionária estadunidense Dorothy Stang, que voltou às páginas dos jornais esta semana, com a anulação do júri que inocentou o acusado de ser o mandante da execução da freira.

Como se estivéssemos vivendo no sistema pré-colonial de Capitanias Hereditárias, somos obrigados a nos submeter aos mandos e desmandos das famílias poderosas de políticos e fazendeiros que fazem parte da minoria da população que detém a maior parte das riquezas deste país.

Dando continuidade à triste saga de pessoas que lutam para por fim às gananciosas ações destes capitães donatários, que já fizeram vítimas como Chico Mendes e Irmã Dorothy, os missionários que protestam contra as ações de fazendeiros que incluem grilagem de terras, destruição de áreas ambientais, ameaças a moradores, atentados e homicídios, são pressionados a ficarem calados ou receberem como retribuição aos protestos, a morte.

A situação de estados como o Pará, onde a questão da violência é extremamente delicada, é agravada pelo descaso ou jogo de interesses do governo brasileiro. Se em estados como o Rio e São Paulo a violência assusta devido à bandidagem que mantém o grande mercado do tráfico de drogas, o Pará sofre com o prevalecimento do descaso e do medo causado pelo grande mercado do jogo de interesses e troca de favores entre as famílias de políticos e as famílias de latifundiários.

O caso da missionária Dorothy Stang, que causa tanta revolta cada vez que o assunto vem à tona, traz consigo o inconformismo de uma população cansada de tanta impunidade, quando quem senta no banco dos réus é alguém de influência, apto a comprar quem quer que seja. A impressão que nos é passada é que o adágio “todo mundo tem um preço” é mais que válida na falsa “Justiça” brasileira.

Esta semana, foi anulado o júri que absolveu o algoz de Irmã Dorothy, o fazendeiro paraense Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida. Depois de ser preso e absolto, o acusado do assassinato da missionária voltou à cidade do crime em Anapu (Oeste do Pará), onde segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e o Ministério Público Federal, negociou, durante os onze meses em que esteve em liberdade, a compra de lotes de terra de ex-assentados da região, pressionando os moradores e lhes fazendo ameaças. Como não se apresentou à polícia, Bida é tido como foragido.

Os parentes e amigos de Dorothy Stang comemoraram a decisão da justiça brasileira em reabrir o caso da missionária morta a queima roupa com seis tiros em 2005. A Justiça no Brasil, assim como a política, é uma piada, que zomba da dignidade do pobre, do cidadão, do povo. Com o caso de irmã Dorothy reaberto, vamos esperar se dessa vez o Pará e o Brasil irão realmente ver a esperança vencer o medo.