quinta-feira, 24 de abril de 2008

A nova Vida do Carandiru

Cinco anos depois de ser demolido, o presídio do Carandiru transforma-se em fonte de educação e lazer

Antigo complexo penitenciário, o Carandiru hoje abriga além de uma FATEC e uma ETESP, o Parque da Juventude, que fizeram renascer o local marcado pela violência e pelos fantasmas do passado.

Desativado em 2003, o Carandiru tenta desde então apagar sua marca de violência, dando lugar à educação, com escola e faculdade técnicas, à cultura, com teatro, biblioteca e cinema e o Parque da Juventude, que conta com quadras poliesportivas, pistas de skate, playground, trilhas e muito verde.

Trabalhando há dois ano e meio no parque, a auxiliar de limpeza Marilene Francisca Oliveira Silva, 50, compara o ambiente da região antes e depois do parque. Moradora do bairro Carandiru há 25 anos, Marilene relembra momentos da época do presídio em que os presos acenavam e jogavam bilhetes aos moradores em um ato explícito de solidão.

A auxiliar que teve há dez anos um amigo morto dentro do presídio, condenado por estupro (crime repudiado pelos condenados), não esquece das rebeliões e dos tiros, principalmente do massacre de 1992, que deixou 111 mortos. Para ela, o parque deu uma nova vida ao bairro, já que no lugar dos tiros, ouve-se agora a alegria das crianças brincando.

Os aposentados Cláudio Tomás e Flora Ferri que visitaram o espaço pela primeira vez no dia 24/06/07 e acompanhavam a diversão dos dois netos, destacaram os benefícios trazidos à população com a criação do parque, inclusive em sua utilização por deficientes em sessões de fisioterapia.

Um desses casos é o de Luciano Nunes do Nascimento de 29 anos. Cursando o 7° Semestre de Psicologia no Mackenzie e com deficiência na fala e locomoção, o estudante, apoiado em um andador, caminha por todo o parque sem parecer cansar-se, e ainda brinca: “Não preciso de fisioterapeuta, sei me virar sozinho”.

Acusado de construí-lo como estratégia eleitoral e com o fim de valorizar os imóveis da região, o Governo do Estado tem o parque como ato simbólico para que o local deixe de ser lembrado como sinônimo de violência. O parque emprega mais de 40 funcionários e recebe centenas de pessoas todas as semanas, transformando-se em local de lazer e gerador de empregos.

Fica claro que os vestígios de degradação humana e violação dos direitos humanos estão sendo definitivamente, e para sempre, enterrados.